Nunca gostei do ponto B. Esse é meu motivo mais forte para
não trabalhar com Coaching. A turma do Coaching trabalha maravilhosamente bem
com o pessoal que está no ponto A e quer chegar ao B, mas o meu problema sempre
foi: não ter o ponto B. Tenho certeza
que se eu tivesse um ponto B em mente, o trairia antes de chegar lá. Me apaixono pelas paisagens imprevisíveis
que encontro no caminho e dependendo da intensidade, elas tem o poder de
mudarem muita coisa em mim, até mesmo a rota. E como confio na Vida, deixo-a me
levar. Planejar o desconhecido nunca me
foi atrativo. Porém, viver assim, tomando decisões no meio da caminhada sem
saber para onde estou indo me pede muita reflexão e estômago para manter a
calma no meio do caos.
O poeta e compositor americano Shel Silverstein criou a
palavra “Tesarac” para descrever aqueles períodos de transição da história em
que ocorrem mudanças sociais e culturais muito significativas. Durante esses
períodos, a sociedade fica confusa e caótica, aparentemente perdida, até
conseguir se reorganizar novamente. O período é caótico porque durante a
transição de um período para outro, conseguimos enxergar o que não faz mais
sentido, mas não conseguimos enxergar o que fará sentido. Aconteceu assim na
passagem do sistema feudal para o industrial e agora estamos mudando novamente,
só que da sociedade industrial para a sociedade de serviços.
Mas o que quero mesmo tratar aqui é da “nossa” Tesarac
individual, os nossos momentos de transição, de um emprego para outro ou de um
relacionamento para outro, lembrando que a transição vem antes desse outro
chegar, e por isso nos sentimos perdidos no meio do nada, com aquele vazio
angustiante.
Mas tenho ouvido muitas coisas interessantes que estão me
fazendo valorizar e olhar com outros olhos esse momento, que aliás, o budismo
chama de “Bardo”, bar significa “entre” e do significa “suspenso”, “ilhado”.
Uma sábia amiga me disse que esse vazio pode ser muito
produtivo. Assim como a gestação de uma vida se dá no espaço vazio do ventre e
é ocupado pela criação a partir de um encontro.
Encontros que tenho no meio do caminho precisam de espaço
para florescerem. Se eu estiver com a cabeça ocupada demais com minhas crenças
e certezas planejadas, não há fecundação do encontro, não nasce uma vida nova.
Fiquei feliz esta semana por ver duas reportagens em revistas
diferentes abordando o assunto, tratando das mudanças na Carreira como algo
natural, próprio da evolução da nossa caminhada e da importância de fazermos
boas transições, porque quando mal feitas, nos causam cansaço e estresse. E de
gente cansada e estressada o mundo já está cheio. Precisamos inovar na nossa
forma de viver, trabalhar, amar, porque do jeito que está não dá mais, já era. O
que irá nascer ainda não sei, mas sei que está sendo gerado.
Fernanda Noronha
Psicóloga